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Saudade

Era uma vez um menino chamado Matias.
Certo dia ele acordou mais cedo que o normal. Ele estava com saudades.
Olhou para o rádio relógio e este, despertando, começou a tocar alguma música que falava de saudade.
Ele desligou o rádio mas ficou com a saudade.
Levantou e foi ler o jornal. Saudade era a manchete principal da primeira página. Folheou para as outras páginas, mas todas elas falavam saudade. Os classificados, as notícias policiais, tudo. Nas palavras cruzadas, havia uma palavra com sete letras, que começava com "s".

Saiu de casa, pegou o carro e viu que o reservatório de gasolina estava na reserva, e que portanto precisaria abastecer.

Passou pelas ruas que sempre passou. O tempo parecia nublado, apesar do calor. "Saudade à 2km", dizia uma placa.

"Que coisa estranha", disse Matias para ele mesmo. "Esse 'a' não deveria ter crase".

Chegando no posto, o frentista chegou abruptamente à janela. 

"Que saudade de você", disse o frentista. 

"O quê?", disse Matias. 

"Comum ou aditivada?", repetiu ele.

"Comum, completa. No cartão."

Matias desceu do carro e dirigiu-se à loja de conveniência para realizar o pagamento. "Deve ser uma piada do frentista...", pensou. "Afinal, o Mille é um carro econômico. É isso, um carro que gasta pouco, faz todo sentido..."

Enquanto o carro era abastecido, Matias olhou os salgadinhos. "Saudade queijo, Saudade bacon, Saudade churrasco..." Olhou na janela e viu, do outro lado da rua, a Loja da Saudade.

O frentista entregou-lhe a chave do carro, e disse à moça do caixa: "Saudade 4, comum".

"142,24", disse a moça a Matias.

"Débito", disse ele.

Digitou a senha.

"Saudade incorreta" foi o que apareceu na máquina do cartão.

"Sua saudade está errada", disse a moça do caixa.

"Sua saudade está errada". "Sua saudade está errada". "Sua saudade está errada"...

Matias acordou, abruptamente, ainda antes do despertador tocar. Era tudo um sonho. Matias estava suado. 

"Timóteo", sussurrou ele. "Timóteo precisa morrer".

O rádio relógio começou a tocar. 

"Vou morrer de saudade. Não, não vá embora..."

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